terça-feira, 12 de maio de 2015

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"A vida era muito dura. Não chegávamos a passar fome ou frio ou nenhuma dessas coisas. Mas era dura porque era sem cor, sem ritmo e também sem forma. Os dias passavam, passavam e passavam, alcançavam as semanas, dobravam as quinzenas, atingiam os meses, acumulavam-se em anos, amontoavam-se em décadas — e nada acontecia. Eu tinha a impressão de viver dentro de uma enorme e vazia bola de gás, em constante rotação."
Caio Fernando Abreu 

domingo, 15 de março de 2015

Tardes de Domingo

  Viver sozinha é assistir ao programa de TV que você quer. É não atender o telefone fixo. É comer lasanha quando bate a preguiça de sair pra almoçar. A de microondas, lógico, porque ninguém cozinha pra uma pessoa só. É não usar a pia de um banheiro porque seu pincel de sobrancelha caiu lá dentro e você não sabe abrir aquele negócio. É esperar chegar o fim de semana pra dar uma ajeitada na casa que está de cabeça pra baixo e você não faz a mínima ideia de quem bagunçou aquilo tudo!!!!
  Viver sozinha é aprender a conviver com a falta. Falta comida na geladeira, falta acetona, falta amaciante do ursinho. Faltam coisas que a gente, simplesmente, esquece de comprar. Mas há dias, como as tardes de domingo, em que falta muito mais do que aquilo que a gente, simplesmente, esquece de comprar. Falta colo, falta o pai instalando o chuveiro, falta a comida da avó que não está mais aqui, falta a conversa com a amiga que foi ao cinema com o namorado. Falta a briga pelo controle remoto, falta o filme clichê debaixo do edredom no sofá da sala.
  Viver sozinha é aprender a valorizar coisas simples: o carinho de quem a gente ama, as conversas jogadas fora, as crises de riso (por motivos que nenhuma outra pessoa no mundo acharia graça), o abraço apertado, o sorriso sincero, a tarde na piscina, os pés embolados debaixo do cobertor. É aprender a conviver bem com sua própria companhia. Mesmo quando ela está triste nas tardes de domingo.